sexta-feira, agosto 31, 2007

Todos os bares deviam ter balcão abaixo do nível da rua

Estava cambaleando por uma rua que não conhecia e a cada passante perguntava por um lugar para uma saideira. "Cada passante" no caso foram dois caras no espaço de quase um quilômetro. Nenhum dos dois sabia. Ou falava.
Afinal, numa esquina, luzes vindas de algo que parecia um porão. Me aproximei mais e vi vultos de cabeças circulando num ambiente esfumaçado. A fumaça podia bem ser poeira dos vidros, mas detalhes...detalhes. Tinha esse sujeito mal encarado na entrada do lugar que me deu um cartão branco com um número e abriu uma porta. Adentrei uma espessa camada de fumaça (era fumaça) e murmúrios e meus olhos arderam, achei bom acender um cigarro também.
Na bruma distingui o que parecia um balcão, atrás do balcão tinha alguma coisa que parecia um cara limpando copos, na frente deste algumas camadas de pessoas.
Afastei algumas camadas e berrei ao "cara-de-fumaça" :
- Ei! Me dá uma cerveja!
- Qual delas?
- Me dá qualquer uma...
- OK - disse, dando uma piscada e me estendendo uma Guiness. Cara estranho. Preciso tomar cuidado aqui.
Resolvi encostar num balcão na frente de uma das janelas que vi do lado de fora. Ao contrário do lado de lá, do lado de cá se via tudo, não que tivesse muito pra se ver.
Um vulto senta na banqueta do meu lado, deve ser uma mulher pelo cabelo e pela saia que estava usando.
- Tem fogo aí cara? - era mulher, estendi o isqueiro enquanto voltava a olhar pela janela. Ela acendeu o cigarro e por um momento a fumaça ficou mais clara.
- Que que você tá olhando aí nessa janela?
- Nada, não tem nada pra olhar
- Você quer ver a minha bunda?
- Difícil ver alguma coisa com essa fumaça, amoreco.
- Não sai daí
Não deu um minuto eu vi aquele rabo de saia do lado de fora, na janela na minha frente. Sem maiores cerimônias virou de costas e levantou a saia. Era uma bela bunda, se te interessa saber. Baixou a saia e voltou para o lado de onde tinha vindo.
Esperei ela voltar um bom bocado de tempo e nada. Resolvi pegar outra cerveja, dessa vez do outro lado do balcão, pra evitar problemas e garantir minha integridade física. No caminho reparei: tinha janelas como a minha circundando todo o bar. Numa delas, do lado de fora, uma bunda conhecida. Do lado de dentro um babaca com cara de bobo. Dane-se! Uns tem a bunda, outros a cara de babaca.

quarta-feira, agosto 15, 2007

15 de agosto de algum ano aí

Aconteceu. Foi mais rápido do que o tempo que você leva para ler este parágrafo. A Coréia do Norte achou de peitar os EUA, que acharam de responder à altura (2 metros e meio mais alto, diga-se). A Rússia achou que não podia ficar atrás. E Índia e Paquistão, seguidos por Israel e outras potências nucleares, resolveram arregaçar as mangas. Uma grande banana para anos de diplomacia.
Naquele boteco no centro da cidade, a nata: dois estudantes universitários, um garçom, um mendigo conhecido (atraído pela hora de fechamento e esperançoso na xepa que se anunciava), o músico que esperava o cachê da noite e o dono do bar. Olhavam incrédulos para a TV, portas baixadas.
O silêncio foi quebrado pelo mendigo, bêbado, antes de qualquer outro que compartilhasse da situação etílica:
- Putz! Fodeu!
Risos nervosos. Copos baixados. Murmurinho. O "doido" tinha razão: fodera. Não o doido, o mundo.
Portas baixadas, dizia, e não demoraram os brindes:
- Quero ver o presidente dizer que não sabia!
- Sou o dono da maior biblioteca do mundo! Um livro! Um livro!
- Ao ócio amanhã!
- Ao fim do mundo!
Se olham. Fim do mundo.
Sentam-se, que estavam de pé já fazia tempo. Um dos estudantes pensa e se sente ridículo por querer ligar pra casa. Outro se sente ridículo por não querer ligar. O devaneio começa com eles:
- Quantos filhos você queria ter?
- Eu queria um casal...e você?
- Eu queria quatro, mais se possível.
- Você tá é besta...sabe a quanto anda a fralda?
- Ô garçom, traga aí uns amendoins e mais uma gelada já que não tem jeito.

Garçom olha para o dono do bar, que consente, calado. O mendigo se manifesta mais uma vez:
- Ah...eu sabia que ia dar merda. Quantas cervejas tem aí?
Todos se olham. Garçom, limpando a mesa, inclusive.
- QUANTAS CERVEJAS TEM AÍ, PORRA!?!?
-T-t-três caixas... - é um misto de choro engolido e preocupação.
- Então fodeu mesmo irmão...a parada é a seguinte: aqui não é alvo pra ninguém...a gente vai morrer é de radiação, ou fome. Essa cerveja aí não vai dar nem pra molhar o bico.

A lógica do mendigo era irresistivelmente...digamos, lógica. O clima de camaradagem apocalíptica (antes que perguntem se existe tal coisa digo que não sei; não tivemos muitos apocalipses ultimamente para aferir a camaradagem existente) deu lugar a olhares desconfiados e rostos sombrios. A cerveja ia acabar, e logo. Era mister garantir o seu quinhão. Melhor era pegar tudo pra si. E dane-se se eram 3 caixas de serramalte, caras à beça. Em tempos escatológicos a gente tem um pendura garantido, paga-se lá, no além ou na próxima vida, o que vier primeiro.

Luzes se apagam.

segunda-feira, julho 23, 2007

Anti-guia botequeiro 1 - Casa do Norte Feijão de Corda


Ali na Casa Verde é domingo e faz silêncio, que por sua vez é quebrado por uma ou outra criança, um latido de cachorro, adolescentes que passam com suas mobiletes caseiramente envenenadas e os suspiros de satisfação de quem está sentado numa mesa da Casa do Norte Feijão de Corda.
Dica quentíssima do Cabral, o bar foi escolhido para inaugurar este anti-guia por preencher todos os quesitos expostos no nosso manifesto.
Era domingo, dizia, e o sol garantia a luz ideal para transformar qualquer cantinho, fresta, bicho, gente, em fotografia. Barrigas roncavam e bocas salivavam pelo prometido baião de dois que seria servido ali no botequim "simples, viu gente", nas palavras do Cabral.
O atendimento do garoto "recém-chegado do norte", segundo o proprietário do lugar, foi um primor. Tímido a princípio, característica do bom garçom que está esperando as gentilezas do novo freguês para começar a buscar as cervejas mais geladas do fundo, "aquela que você guardou pra você, por favor". Foram as gentilezas, e vieram as cervejas.
No cardápio farto em quitutes do norte, o Baião de Dois gritava por nossa atenção, ao que respondemos: "com carne-de-sol, por favor". Como entrada, costelinhas com mandioca frita e manteiga de garrafa, o que aumentou nossa sede.
A tarde corria frouxa, o riso saia frouxo e o sol ia baixando, junto com as pálpebras.


A versão de Bibi
(a cada dica a visão de Bianca, representante do público feminino botequeiro)

Um prazer gustativo que beira o sensual, com toques de tempero e textura que quase me lembram a areia de Boa Viagem que vinha de brinde com o prato quando vivi lá. Foi essa a sensação que tive ao saborear o Baião de Dois da Casa do Norte Feijão de Corda... sem o excesso de areia e o sol escaldante da praia de Boa Viagem... foi aqui mesmo, na esquina de casa... que delícia!

A casa começou na R. Carandaí há uns cinco meses, em uma pequena lojinha que comportava um balcão embaixo e algumas mesas em cima, junto com a cozinha mágica. As mesinhas começaram a pipocar na calçada e resolvemos provar a comida que atraía tanta gente. A gentileza do chef (que também é dono), de sua esposa, a comida impressionante e a temperatura exata da cerveja chamaram nossa atenção, mas a estrutura física ainda não nos permitia compartilhar essa pérola com o mundo (pois nossos amigos não caberiam nas mesas). Tal problema foi solucionado com a mudança da casa para uma instalação de esquina, com mesas em número suficiente, banheiros para meninas e meninos (nos quais eles estão trabalhando, mas que ainda não atingiram o nível de excelência considerado ideal por esta que vos escreve... mas que ganha um crédito pelas florezinhas caprichosamente colocadas na pia), um solzinho gostoso que bate nas mesas da calçada, sem exagero ou necessidade de protetor solar e a fabulosa recepção quase que familiar dos donos da casa.

Vale a visita, para ter o prazer de degustar os acepipes temperados perfeitamente (sem exageros ou excessos de coentro)... Então vai lá ver...

Tão vale a pena!



Serviço:

O quê?
Casa do Norte Feijão de Corda
Onde? Na esquina das ruas Carandaí e Jaboatão, na Casa Verde, zona norte.
Tem Telefone? Tem.
E qual é? 3857 1719
Quantos foram? 5 pessoas
Tamanho do estrago: foram consumidas uma porção de costelinha com mandioca, um baião de dois com carne-de-sol grande (serviu bem cinco pessoas), uma caipirinha de Salinas, uma dose de Salinas e quantidade incontável de cerveja. Tudo por R$18 por cabeça.

Fotos by Carlos Cabral, o fotógrafo que puxa o cobertor e descobre o Brasil.

domingo, julho 22, 2007

Manifesto anti-guia

Responde uma coisa pra mim: quantas vezes você não se pegou num sábado ou domingo quando o sol convidava para sair de casa tomar uma geladinha e comer uns negocinhos com uns amigos jogando conversa fora e se perguntou: "onde?"
E depois de se perguntar "onde?" correu pra um guia de jornalão ou revistona, ávido por uma dica de lugarzinho ao sol onde pudesse descansar o corpo, garrafas às dezenas vazias na sua frente, pratos raspados, olhos mareados de sonolente satisfação?
E depois de escolher um entre dúzias de lugares cujos nomes não dizem nada, cujos preços exorbitantes convidam ao estoicismo, em regiões distantes que sugam a última gota de sangue bandeirante que corre na sua veia, você chega a um lugar sem vaga para estacionar seu carro, sem mesa para estacionar os amigos, sem garçom para suprir a demanda de cerveja...essa cena lhe é familiar?
E se alguém te convidasse para uma cervejinha domingueira num bar a poucas quadras de sua casa? Lugar em cuja porta você sempre passou apressado para o trabalho e para onde , uma ou outra vez lançou um olhar curioso, mas preferiu confiar na sensibilidade e tino jornalísticos de "profissionais que resenham os melhores bares da cidade"? Faça um exercício: passe por esse bar no domingo à tarde e contemple as pessoas com semblante satisfeito, dezenas de garrafa à frente, pratos raspados e olhos mareados.
Sim! Há vida no seu bairro. Há lugares que não constam no mapa da grande imprensa e onde se pode encontrar ambiente amigável, cerveja gelada e bons acepipes da culinária botequeira. Mais! Há lugares no seu bairro onde se pode provar da rica culinária brasileira, sem pressa, sem briga por mesa, sem briga por vaga ou por um manobrista.

Temos uma proposta pra você: regularmente iremos postar neste espaço uma dica de um lugar bacana em algum ponto desta São Paulo. Haverá o texto deste seu garçom, as fotos supimpas do amigo Cabral e alguns pontos altos como a colaboração da Bianca, esposa do Cabral, que nos dará a visão feminina do lugar resenhado - itens indispensáveis ao gênero como a usabilidade do banheiro e a variedade do cardápio estarão em pauta nos seus pitacos - além dos "positivo" dos queridos Rogério e Isabelle, jornalistas e botequeiros de mãos cheias (quatro ao todo).

Não meus caros, não ficaremos só nisso. Queremos convidá-lo para fazer parte desse "mapeamento botequeiro fora do gibi". O nosso espaço está aberto para sua sugestão de lugar que valha a pena, só lembre-se de respeitar alguns pré-requisitos a saber:

- tem que ser um bar de bairro (nada de filial de um determinado bar)
- nada de ambientes assépticos e metidos a besta, como aqueles bares inaugurados ontem com cara de bar dos anos 30.
- tem que ter algum petisco ou prato que seja especialidade da casa, um chope bem tirado ou uma grande variedade de cervejas e/ou cachaças pode ser estudado.


Sim amigos, mais do que um guia este espaço vai ser uma grande troca de figurinhas e experiências. E a grande prova de que nós, como botequeiros, podemos e devemos andar com nossas pernas, usar nosso próprio olfato e nosso espirito desbravador.


Aguardem novidades a partir de amanhã! (ou no máximo terça..haha)
Saúde!

quarta-feira, julho 11, 2007

Eu sou o Lanterna Verde...e vc?


You are Green Lantern
























Green Lantern
80%
Superman
70%
Spider-Man
60%
Supergirl
50%
Iron Man
50%
Wonder Woman
45%
Batman
45%
Robin
42%
Hulk
35%
The Flash
30%
Catwoman
5%
Hot-headed. You have strong
will power and a good imagination.


Click here to take the Superhero Personality Test

quarta-feira, julho 04, 2007

Um girassol da cor...

Vai daí que você está sentado e adentra um girassol no bar. Não andando, fique claro. Carregado, que é a natureza das flores colhidas. Espanta? Espantei.
Gosto de girassóis. No duro! Sabem aquele papo de que girassol, nos campos de girassol, segue a luz solar conforme passa o dia? Verdade. Já vi.
E esse era dos grandes; redondo, repolhudo, solar. Atravessou o bar e sentou na mesa atrás de mim aquele girassol, que acha de aparecer num bar à noite, plena rua Augusta. Penso no girassol buscando a luz fria e branca do boteco, saudoso que deve estar da nossa estrela. Ou seguindo o farol de algum dos vários carros que seguem rua abaixo, ou acima.
As cabeças nas mesas é que se viram, curiosas sobre seus caules de pescoço, seguindo o girassol que adentrou o bar.

quinta-feira, junho 28, 2007

Aqui, ó.

Já não se espanta. Mas ainda sente o frio na barriga; será? Atravessa a rua olhando para os dois lados, o de cima e o de baixo, vai que alguma coisa desce ou sobe e te atropela. Passa o dia ouvindo cheiros e cheirando luz. Pisar em ovos é que é. Estômago embrulhado, pra presente, num laço com nó cego. Olhar e ver pra quê se a poeira é densa e se agora, na selva, só existem espelhos? Uma mão enrugada, a outra não, que você já está a meio caminho andado; ou com água até o pescoço, acenando pra ninguém. Tá tudo aí, é pegar ou largar. Agarra com unhas sujas e dentes podres e não solta. Nem corre que se correr o bicho...o bicho. Acabou a brincadeira, enfia a bola no saco e vai pra casa que está na hora de jantar...silêncio. Preocupado? Aqui, ó. AQUI, Ó!

terça-feira, junho 26, 2007

O caroço da questã

Semanas atrás assistimos palestra com o jornalista William Waack, apresentador do Jornal da Globo, daquela emissora. O objetivo não ficou muito claro, mas ficou a impressão de que seria dar um panorama da imprensa brasileira atual.
Inevitavelmente um dos assuntos discutidos foi a grande quantidade de escândalos que pipocam no governo do, nas palavras do grande Elio Gaspari, Nosso Guia e a terrível constatação de que o brasileiro perdeu a sua capacidade de se indignar e de reclamar; de ir à rua e se mostrar indignado.
Espaço aberto a perguntas, questionamos o profissional se não seria também papel da imprensa dar maior ênfase à análise acurada dos fatos ao invés da simples repetição e divulgação uma vez que, pela quantidade de escândalos, essa tendência poderia provocar um efeito anestésico nos receptores da notícia.
William foi categórico em não dizer nada. Nem que sim nem que não. O debate é complexo, sabemos, mas o espaço para discussão e análise ainda é restrito.
Me pego agora lendo na Folha Online esta matéria comentando o fato de a Sra. Mônica Veloso, jornalista, mãe de uma filha de Renan Calheiros e um dos pivôs do escândalo mais recente, ter manifestado seu interesse em posar nua para uma revista masculina. E mais! Essa mesma revista estar interessada sim em exibir as fotos da nobre cidadã. A matéria até chama a jornalista de "musa do escândalo".
Não faz muito tempo, durante outro escândalo, o do valerioduto ( que também se chamou Mensalão) a secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, manifestou pretensão parecida com a sra. Monica, chegando inclusive a fazer ensaio "sensual" para a própria Folha de S. Paulo na sua versão online.
Vamos assim, numa corda bamba entre a notícia bombástica, a denúncia gravíssima e a chacrinha, a leviandade.
As denúncias do caos aéreo gravitam entre bravatas do lado do governo e das forças armadas, as denúncias dos controladores e os repórteres de plantão nos aeroportos preocupados não em entrevistar ou localizar autoridades que possam dar opinião oficial - ou mesmo funcionários com versões oficiosas - sobre os fatos; buscam antes, quando não somente, a opinião da senhorinha cansada, da família em pé faz 4 horas. Ora! Estes estão obviolulantemente indignados com o fato de terem seus vôos cancelados.
Sr. William, concordo com a opinião de que o papel da imprensa é informar. Concordo que a velocidade das informações e dos escândalos que grassam nem sempre permite uma análise ou a busca de opiniões de especialistas a priori. Questiono o carnaval. Questiono a bufonice em que terminam as coberturas dos escândalos; essa postura sim sr. William, é a responsável pela falta de indignação e pela anestesia geral no moral da patuléia.

sexta-feira, junho 22, 2007

Resumo

Rua Frei Caneca, Rua Altinópolis, Escola de educação infantil Bambino, Peg&Pag, Copa de 1982, Ponte Pequena, irmã pequena, bonequinhos do Batman, Ultraman e Ultraseven, mãe pedindo pra ir comprar pires e eu achar que é um jogo, aniversário com bandeirinhas no teto e bolo imitando campo de futebol, playmobil, Rua Salete, Colégio Dervile Alegretti, professora Jurema, primeiro livro, Jumbo Eletro, Arujá, água do poço e o barulho da bomba de tirar água do poço, malhar o judas, cheiro de café, bife com casca, farofa de ovo, mandiopã, Pirituba, Pico do Jaraguá, Colégio São João Gualberto... 10 anos.
Bicicleta nova, amigos novos, descer ladeira, medo de cair, entrar em casa sujo de lama, boletim com o primeiro "vermelho", lavar a Brasília vermelha no sábado, cinema no shopping paulista com os amigos do colégio e guerra de pipoca, meninas-lá-meninos-cá, meninos e meninas se aproximando depois, ficar sem graça e não saber o que fazer com as mãos, Ilhéus, saudade, Colégio São Jorge, cartas trocadas e mais saudade, Porto Alegre, Brique da Redenção, lanche no Rib´s, IPA, deslocamento, grupo de jovens, acolhimento, amigos, cara pintada, amigos, Técnico em Contabilidade, amigos, namoradas, Rolling Stones no Pacaembú e lanche no La Baguette, primeiro porre, primeira banda, cerveja com o pai, Gramado, PUC, música industrial, amigos de mijar junto, cafeteria Porto dos Casais...20 anos.
Namoro sério, medo de perder, estar sozinho no mundo, conversas noite adentro com Nescafé, voltar pra São Paulo, querer morrer, depois desquerer, querer viver, não entender mais nada, Vila Matilde, ser tio, desencontros, porres, emprego estável, novos amigos de mijar junto, Passagem da Consolação, Renata, Riviera Bar, gosto de futuro, Rua Paim, universo paralelo, fazer pastel, churrasco na chuva, chuveiro queimado, Rua Frei Caneca, festas intermináveis, controlar a pressão, parar de fumar, voltar a fumar, viajar junto e voltar junto, filme e pipoca, Ibotirama, Festas dos anos 80, voltar a estudar, casa própria, Alameda Ribeirão Preto...30 anos.
...

quinta-feira, junho 21, 2007

Virei a esquina e topei com 30 anos

Amanhã vou olhar no espelho de manhã, para os rituais humanos corriqueiros, e vai estar o reflexo de um cara com 30 anos vividos. Talvez eu puxe pálpebras pra baixo, afaste alguns fios de cabelo aqui e ali e descubra uma nova dobrinha, um novo fio branco; no mais, o mesmo eu.
Devia ter um espelho que mostrasse como a gente vai por dentro, que eu sinto algumas coisas que não sentia quando completei 20. A capacidade de entornar diversas qualidades de bebida numa mesma noite e acordar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido me escapou, por exemplo. Dez anos atrás eu comecei a fumar e hoje eu sinto os efeitos disso quando subo uma ladeira, ou boto os bofes pra fora de manhã cedo na hora do banho.
São coisas que me fazem pensar que a gente tem um limite, e acho que essa é uma das descobertas desses tempos de 30 anos. A gente se pega falho, descobre que não tem a capacidade regeneradora eterna e nem pode dobrar barras de aço com o mindinho. Dá um certo medo, mas o medo faz parte.
Conversava com um amigo, dias atrás. Ele está dez anos na minha frente nessas descobertas e passagens. Concordamos em um ponto: a tal crise dos 40 começa aos 30. A gente se pega mesmo sentindo que tudo o que fizermos nesse período define o que seremos para o resto das nossas vidas. 20 anos é fichinha. Dos 20 aos 27, 28 você tem mais é que curtir uma boa dose de irresponsabilidade. De repente você acorda um dia pensando em que diacho está fazendo. Acorda olhando em volta e vendo onde você está. Em boa parte dos casos tem ali do seu lado uma mulher que te ama, e que você ama de volta e quer passar o resto da vida do lado dela. Olha pra uma casa que você está construindo. Uma família apontando. Te dá uma paz e um nó na garganta. Você se vê homem, no melhor sentido do termo. Tem um mundo pela frente e um passado com um bom repertório de acertos e cagadas em que se basear. No meu saldo geral de acertos e cagadas, foi um bom passado - tenho milhares de fotos pra provar. Vai ser um bom futuro. Está sendo uma boa vida.

quarta-feira, maio 02, 2007

Grandes Momentos da Humanidade. Parte 1 - Mudando de Casa

Conheço gente que passa a vida inteira na mesma casa, ou só se muda uma vez quando sai da casa dos pais para formar nova família. Tem também aqueles que formam nova família dentro da casa dos pais mesmo.
Nas minhas contas, por baixo, já mudei de casa umas 15 vezes, o que me faz um razoável conhecedor da arte. Mesmo assim, abalizado "cachorro mordido por linguiça", tomei uma bola por baixo das pernas ainda outro dia.
Acontece que Renata e eu entramos para o seleto grupo de proprietários de casa própria. Um belo apartamento ali na al. Ribeirão Preto, a duas quadras da Av. Paulista no lado do Bexiga, que é onde enterramos o umbigo ( expressão indígena que poeticamente ilustra a pertença da pessoa ao lugar).
Sensação bacana. Durante o mês e meio de espera até a entrega das chaves -que aconteceu no último domingo - fizemos planos. Sonhamos móveis do jeito que sempre quisemos e não compramos por não achar legal investir tanto num espaço que não era definitivamente nosso. Agora sim! Podíamos nos dar ao luxo de fazer as coisas do nosso jeito, pensando no longo prazo. Grandes refrigeradores com espaço para toneladas de comida congelada. Poltronas dispostas milimetricamente. Sofás que te abraçam na frente da TV disposta sobre o rack bacaninha.
E quem sabe, delírio dos delírios, uma mesa com 6 lugares.
A certeza de que tudo estava perfeito foi nossa ruína.
Corremos para a Tok & Stock e encontramos o sofá, aquele que te abraça em frente à TV...marcamos a entrega para 05/05, "claro que vamos conseguir mudar no fim de semana depois da entrega da chave, né?"
Toca para as Casas Bahia pra ver a geladeira. A geladeira gigante para toneladas de comida congelada. Dispensamos o dispenser pra água que frescura tem limite. Chutamos todos os baldes, porém, comprando uma TV LCD. Data de entrega? 05/05.
Corremos para a Teodoro Sampaio (para quem não é de SP, é uma das famosas ruas especializadas daqui, esta é especializada em móveis. Milhares de lojas de móveis) para ver se achávamos o rack bacaninha. Achamos. Data de entrega? 05/05.
Fomos para casa felizes e satisfeitos, mas não sem uma pulga atrás da orelha. "Será que está tudo certo mesmo no apartamento?" "Claro que está! Por que não estaria?".
Estranhamente o proprietário do apartamento nos ligou na noite do sábado dizendo que não poderia entregar a chave em mãos. Tinha uma viagem urgente. Deixaria a chave na portaria, boa sorte, boa sorte. Um frio na espinha nos acompanhou durante a noite.
Acordamos no domingo e fomos buscar a chave.
Regra número um das mudanças: um apartamento mobiliado esconde muita coisa. Não faça nada até ver o apartamento vazio.
A visão do apartamento vazio foi um sopapo. Fomos mirins. Dentes-de-leite. Só a pintura do apartamento tomaria pelo menos uns 3 ou 4 dias. Outros detalhes foram surgindo, entre eles o espaço vazio na cozinha, onde devia estar um fogão embutido, que não compramos. Pra quem não sabe, um fogão embutido custa de 40% a 50% mais do que um fogão convencional.
Ainda na cozinha algo me fez tremer. Havia um nicho para a geladeira. Que estranhamente parecia curto...Pensei na nossa geladeira de guardar toneladas de comida congelada. Peguei a trena e medi a largura. 70,5 centímetros. Preferi ficar calado. Teríamos que voltar de qualquer jeito nas Casas Bahia para remarcar a entrega das compras, então eu mediria a geladeira.
Foram horas tensas até a segunda feira. De noite sonhei com um tribunal de geladeiras me julgando por não ter medido o nicho antes da compra. Acordei suado e gritando. Mas divago.
Acordamos na segunda-feira determinados. Fomos à Consolação (outra das ruas especializadas de SP, nesse caso em iluminação. Não a espiritual, a elétrica.) para comprar outro item faltante: luminárias e spots. Levamos tudo para o apartamento novo.
Na parte da tarde voltamos à loja do rack e depois às Casas Bahia para alterar a data de entrega. Discretamente puxei a trena e medi a geladeira. Alívio. 68cm de largura. Tínhamos 2cm de sobra, o que na escala dos nanômetros é mais do que a extensão do Maracanã. Na minha cabeça eu vi o tribunal das geladeiras virando as costas e dizendo "que isso não se repita!".

Estamos mais calmos agora. Conversamos com um engenheiro, amigo da família da Renata, que se propôs a ver a disponibilidade para fazer a pequena reforma. Já estamos pensando em mudar só no fim do mês. Mudança tem que ter paciência, gente. Tem que ter paciência.

Rock Press

Pelo menos dessa vez eu tenho uma boa desculpa pra demora em postar alguma coisa que não seja o velho e bom bloqueio. Estava escrevendo uma matéria para o site Rock Press a respeito do lançamento do novo album do Nine Inch Nails.
Clica!
Os comentários de vocês são muito bem vindos!

terça-feira, março 27, 2007

Mendigos

Os mendigos olhavam a televisão.
Na calçada do bar, risos e copos quebrando. Os mendigos sentados olhavam a televisão.
Dentro do bar algumas cadeiras erguidas para cima das mesas; meia noite gente, hora de fechar. Os mendigos sentados na calçada olhando a televisão. Os olhos mareados, translúcidos, vazios, zumbis... olhando a televisão.
Pernas cruzadas espremendo as barrigas vazias daqueles mendigos que ninguém via, e que olhavam a televisão.
A televisão que estava fora do ar.

sexta-feira, março 09, 2007

Zingg!...Pow!....Crás!

Nessa sexta feira sonolenta, onde tudo o que me vem na cabeça é sair daqui correndo para o bar mais próximo e tirar o sapato aos berros de "acudam! uma cerveja pelamordedeus!!", não sei por que me ocorreu o nome do falecido fotógrafo David Drew Zingg. Americano de New Jersey, "tio" Dave mudou-se de mala e cuia para o Brasil após conhecer e se apaixonar pela bossa nova - a mulher brasileira ele viria a conhecer depois.

Morou no RJ e depois se mudou para SP, onde colaborou (nos últimos anos de vida) com a Folha de SP. Lembro de lê-lo na adolescência e de nele encontrar um outro herói inspirador. Seus textos transbordavam bom humor e crítica ácida. Conversava com o leitor como quem está no bar, chamando-o de Joãozinho. Chamava os EUA de gringolândia, o RS de gaucholândia...e por aí ia...desfiando seu rosário de causos.

Garimpei um pouquinho e achei um texto absurdamente emocionante e emocionado. Uma declaração de amor deslavada de um gringo por um país estrangeiro. O acaso tem dessas coisas: nesses tempos em que nossa auto-estima como brasileiros anda tão por baixo, onde brigamos tanto por uma razão de acreditar que tem luz no fim do tunel vem mr. Zingg, lá de onde descansa, me arrancar umas duas ou três lágrimas.
Tio Dave, puxa uma cadeira e usa da palavra, por favor. A cerveja já vem vindo.

"Não sei como aconteceu, mas de repente o Brasil se transformou para mim no país mais cheio de vida que conheci. Não era o pitoresco exagerado do folheto turístico. Não era o superverdadeiro e superglorioso aspecto físico: Corcovado e as praias, Iguaçu e o Amazonas. Não eram os cinematográficos desfiles de Carnaval. Não era Brasília, não era São Paulo, não era todo o poder industrial das fábricas de automóveis; ou a televisão, a Kibon, Nycron, Peg-Pag. Era o efeito arrebatador de cada profundo e emocionante contato com um brasileiro, depois outro, depois outro, depois dez e depois centenas. Era a experiência de ser tratado como um ser humano por outros sêres humanos - o mais aberto e complicado, sereno e perturbado, alegre e triste grupo de sêres humanos com quem já convivi. Seja qual fôr a minha impressão a respeito do brasileiro, êle me parecerá, em primeiro lugar, aberto. E eu tenho sido ajudado, odiado, apoiado, enganado, admirado, detestado e amado.

Cheguei à conclusão de que existe algo simples, mas muito forte - um tipo de cola humana indestrutível - que junta numa idéia só êste grande País. Ao olhar para um brasileiro, sinto que êle tem a absoluta certeza do que é. E acredito que essa certeza vem do fato dele ter sido muito amado, desde muito cedo e durante muito tempo. Para mim o Brasil é um país habitado por um grande número de pessoas que têm sido muito amadas e que têm capacidade de transmitir esse amor. Aqui se encontra o amor à vida que impede o derramamaento de sangue, que mantém as pessoas vivas, no verdadeiro sentido da palavra. Commo estrangeiro, vejo sempre o carinho enchendo as ruas.

O que pode o visitante dizer a respeito da mulher brasileira, que Vinícius de Moraes já não tenha dito com mais amor e mais profundidade? Que observações pode fazer o forasteiro a respeito dos olhos profundos da morena carioca, que inúmeros homens já não tenham feito? Como pode um estrangeiro descrever melhor suas qualidades que uma canção de Tom Jobim? A mulher brasileira tem lugar especial na geografia feminina do mundo. Sua beleza física, para um fotógrafo, é muito simples de ser descrita. Seu andar, seu gôsto intuitivo para se vestir, seus olhos, seus cabelos - tôdas essas coisas a colocam entre as mais belas. Mas suas qualidades interiores - sua maneira de se dar completamente e sem reservas quando ama - é que são as coisas mais difíceis de medir e descrever. Como explicar que uma prostituta brasileira seja tão carinhosa? Como transmitir o sentimento indescritível de ver a alma de alguém através de seus olhos? Como medir a profundidade, a amarga profundidade, do amor por uma mulher brasileira que perdemos?"


sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Toca do Tatu

Afora algumas experiências esparsas em bares de faculdade generosamente emprestados por amigos, faz uns dez anos que não experimento "the real thing".
Bar de faculdade é emoldurado de imberbes descobrindo os prazeres da vida e do álcool.
Bar de faculdade tem que ter banheiro fechado a chave, nem que seja o feminino, esta sob vigilância do proprietário ou do garçom mais antigo.
Em bar de faculdade não rola briga que não seja por ciúmes, de mulher ou de fígado mais resistente.
Bar de faculdade que se preze incomoda a vizinhança.
Em bar de faculdade às vezes aparece um bêbado amigo do estudante (fui ambos) ou anônimo que acaba amigo de todo mundo.
Bar de faculdade é indispensável na formação de um universitário. Os que passam incólumes não sabem o que estão perdendo.
Cerveja em bar de faculdade tem gosto diferente. Bebe-se brahma como se fosse a melhor cerveja do mundo.
George W. Bush, Bill Gates e FHC não frequentavam bar de faculdade.
Bukowski, Tim Leary e Aldous Huxley se não viviam lá, pelo menos passavam na porta.

Em bar de faculdade sempre tem um cara escrevendo.

este devaneio surgiu no bar "Toca do Tatu" próximo à Unip na rua Apeninos, onde um dia pretendo ter conta.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Renata

Hoje é aniversário da Renata, minha companheira.
Companheira, segundo verbete do "dicionário Leonardo de adjetivos emotivos", a gente conquista depois de bom tempo de história comum, descobrindo, rindo, chorando, bebendo e comendo e deixando de beber e de comer.
Queria escrever uma música que falasse de todas essas coisas. Dos dias de chuva e preguiça na cama. Das vezes em que cozinhamos juntos e das vezes em que nos cobramos por não fazê-lo. Das vezes em que pisei na bola e te deixei puta. Das várias vezes em que nos prometemos fazer caminhadas. De ficar discutindo a cor do sofá e se vamos trocar a geladeira sim ou não.
Que ela falasse desde aquele primeiro beijo na passagem da Consolação, sabe lá onde estávamos com a cabeça que acabamos vindo parar aqui anos depois, planos feitos e objetivos alcançados, muitos ainda a caminho.
Falasse ainda desse ano que começa atropelando com novidades e do medo já declarado que tenho de ficar longe de você, ao mesmo tempo em que olhando nos seus olhos perco o medo de tudo, até de cachorro e mariposa.
Não tem som essa música, minha querida, só aquele que reverbera aqui dentro quando penso em você, em nós e tudo o que temos pela frente. Você vai longe, eu tou indo logo atrás sem largar da sua mão, vendo se está tudo bem.

Te amo de amor.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

? de junho de 2077

pra quem ainda não sabe do que se trata, leia antes:
parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5,
parte 6

Não sei se se passaram horas, ou dias, ou meses, mas acordo suando, como depois de um pesadelo. A sensação logo se define em urgência e não em medo. Preciso me levantar e sair, o mais rápido possível.
O relógio marca 3 da manhã. Visto uma roupa ao mesmo tempo em que me pergunto se vou encontrar algum lugar aberto. Não tenho muito tempo. Não sei pra quê, não sei de quê, só sei que o tempo é curto.

Saio pela rua e resolvo passar no bar do Carlos, se é que ele vai estar aberto. E para minha surpresa está. Entro esbaforido, falando coisas nas quais não vejo nenhum sentido:

- Seu Carlos, está tarde, onde eu devo ir?
- Oi Augusto, você tem que ir onde você tem que ir.

Estranhamente eu sei exatamente onde isso fica.

Subo a Rebouças. Desço o boulevard Matarazzo, entro na Fernando de Albuquerque e na esquina da Augusta, onde até outro dia existiam ruínas, está um bar novo. Um toldo verde, mesas na calçada e uma placa onde se lê Ibotirama 2077. Tem uma mesa na calçada, vazia. Me sento.

Um garçom sorridente me pergunta o que vou querer. Peço cerveja e cachaça. Só então percebo algo vibrando no meu pulso. Na correria para me vestir coloquei meu data-watch. Está em modo player. Estendo os fones e os ponho no ouvido. O nome da música é Lay me Low, do Nick Cave. música que meu avô chamava de "descrição da morte perfeita".
"They'll bang a big old gong (Lay me low)
The motorcade will be ten miles long
The world will join together for a farewell song
When they put me down below
They'll sound a fluegelhorn (Lay me low)
And the sea will rage, and the sky will storm
All man and beast will mourn
When I go"

Olho em volta. Pessoas rindo. Falando. Bebendo. E na mesa ao lado uma garota sozinha. Usava um laço amarelo na cabeça. Nada nos pulsos, e um lápis nas mãos, que usava para desenhar algo no guardanapo. Levantou a cabeça e olhou para mim, sorrindo:

- Espero que não se importe, mas estou fazendo um desenho seu - disse.
- Não, não me importo não...quer dizer, se eu puder ver o desenho. - respondi alguns segundos depois.
- Claro. Vem! - apontou a cadeira ao seu lado.

Me levantei e sentei ao seu lado. Tudo levava muito tempo. Muito mais do que consigo dizer agora. Vi as pessoas nas mesas em volta. Ouvi os bipes dos seus aparelhos e as risadas das suas bocas. Vi carros zunindo nas ruas. Ouvi os primeiros pássaros cantando. E vi, dentro do bar, um senhor de barba branca e sem bigode, grisalho, com uns olhos muito negros e pequenos olhando pra mim e sorrindo. Olhei para aquela garota e perguntei seu nome.

- Núbia, minha mãe quis para mim o nome da minha avó.

Por muito tempo não soube mais o que dizer a respeito disso. Núbia, a avó, tinha sido amiga do meu avô. E por conseqüência, frequentado os mesmos lugares. Núbia, a neta, está aqui ao meu lado revisando meu texto, atestando a necessidade de vivermos a nossa própria história.

A existência, percebo agora, é uma dádiva única, exclusiva, irrepetível. Mas às vezes uma série de histórias se juntam, se sintetizam para formar uma nova história. E é tudo o que eu quero dizer a respeito agora.