terça-feira, junho 07, 2016

O começo do fim, parte 2 (a parte 1 vem depois, tipo Star Wars)





Semana passada escrevi um artigo que não postei.


Falava da minha impressão de que a hora de apontar dedos aos que tinham apoiado o impeachment tinha passado. A atitude devia dar lugar a outra. Estávamos em um momento didático em que os fatos cuidavam de mostrar as reais intenções dos orquestradores do golpe. Mais construtivo, dizia eu, seria sentarmos todos para conversar. Onde erramos? O que nos trouxe aqui? O que podemos consertar?


Repensei. Talvez soasse arrogante. Não postei.


Hoje alguém compartilha um tuíte do Fernando Meirelles, diretor de - entre outras coisas - Ensaio Sobre a Cegueira, filme baseado na obra de José Saramago que alude a uma sociedade onde nos fechamos de tal maneira à realidade (nossa e do outro) que nos tornamos cegos. A cegueira seria nossa incapacidade de sentir empatia. O filme arrancou lágrimas sinceras do falecido romancista.


No tuíte, o cineasta comemora os pedidos de prisão de José Sarney, Romero Jucá e Eduardo Cunha. “Agora sim o país está funcionando”, diz...não estou citando-o literalmente, leia o tuíte você mesmo.





Quando um artista do calibre de Fernando Meirelles (que fez outro artista do calibre de José Saramago ir às lágrimas adaptando obra sua) diz que o país vai bem porque, em uma manobra cinematográfica - ou melhor teatral, pelo exagero na interpretação da farsa - , três políticos correm o risco remoto de serem presos, ao mesmo tempo em que esquece, ignora ou omite que nessa mesma trama milhares de cargos foram criados, reajustes foram concedidos, manobras foram feitas em todas as instâncias para salvar outros políticos, juízes fazem vistas a pedidos de promotores de acordo com a própria conveniência, direitos fundamentais estão sendo riscados, este cidadão está cego.


Quando quem entra em briga pra medir que político ou partido roubou mais, ao mesmo tempo em que esquece que os políticos (TODOS) são financiados pelo capital é porque estamos todos cegos.

Fique com o exemplo ilustrativo e educativo do Boston Globe, que diz com todas as letras que “a Petrobrás será vendida” (é só uma questão de tempo), e dos seus leitores “esclarecidos” que aplaudem e afirmam que o mercado deve ser livre das amarras da regulação estatal, ao mesmo tempo em que ignoram que todas as grandes crises globais ocorreram nos períodos de menor regulação estatal.

Estamos todos cegos.


E quer saber? Isso é só o começo.


Estamos todos condenados.


Jurando que nossa voz será ouvida nos fóruns e espaços de comentário.




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