terça-feira, novembro 25, 2008

Ilustrada - 50 Anos

Cinquenta anos atrás nascia um caderno dentro de um jornal. Talvez, na época, fugindo de censura e críticas, o caderno opta por abordar futilidades como horóscopo, crítica televisiva e cinematográfica e - respiro cultural - literária e musical.
Cinquenta anos depois, permanece um caderno fútil. Horóscopo, crítica televisiva, opiniõezinhas sobre artes, maus textos sobre bobagens mal lidas e mal escritas/interpretadas/executadas.
Gaba-se de ter Paulo Francis entre seus colaboradores - jornalista que foi execrado quando do lançamento de seus dois romances . É bem verdade, faça-se justiça, que a contratação se deu sob a batuta de Claudio Abramo.
Mantém na ativa, há 20 anos, um advogado que repete diariamente bordões salpicados cá e lá de notícia, à razão de 50 por 50 ( na melhor das hipóteses ) e responde por apelido simiesco. É mais importante na folha de pagamento do diário do que a maioria dos repórteres dos seus quadros.
Gaba-se de ser o primeiro caderno do diário a usar equipamentos modernos. Gaba-se de ser um caderno que dava as costas a um "velho nacionalismo de esquerda" no início dos anos 80. Dava boas vindas a uma nova geração de profissionais que se recusavam a reproduzir o discurso da esquerda tacanha e da direita paternalista em nome de uma nova cultura pop - que por sinal já circulava no "civilized world" desde os anos 60.
São esses revolucionários que negam fogo e espaço para uma geração de novos jornalistas, apegados que são aos seus contracheques, fim último de tudo o que se faz no "jornalismo" brasileiro.

terça-feira, novembro 18, 2008

acabo de me ver

Cortesia do Rodolfo, amigo de faculdade, acabo de me ver mais de 20 quilos mais magro na tela do computador. Explico: uma fita VHS perdida aqui nas minhas coisas virou DVD que agora posso curtir. No fim da fita, que tinha uma apresentação da banda em que tocava lá em Porto Alegre, um trabalho de faculdade. E lá estou eu...magrinho, magrinho.
Aliso a pança e fico me perguntando onde foi que eu a achei. Não lembro mais. Não lembro se o problema foi a cerveja ou o sedentarismo. O quê foi que eu fiz diferente lá? Bebia? Bebia. Era sedentário? Era. Comia tranqueira? Comia. O que me deu esses mais de 20 quilos de sobra?
Será que esse peso que ostento hoje é reflexo daquela vida desregrada sem horários de almoço ou janta? (Cabe explicação: o período em questão envolve minha primeira faculdade incompleta. Abrange também um período em que morei sozinho em Porto Alegre.)
Será que Porto Alegre emagrece?

quarta-feira, novembro 05, 2008

A sensação da história sendo feita


Acabo de testemunhar um momento histórico, não é o tipo de coisa que se vê todo dia. Não é algo usual.
Um homem subiu num palanque cercado de centenas de milhares de pessoas e falou de esperança, de mudanças. Disse que todos juntos podíamos muito.
Momentos antes, outro homem pediu que todos tivessem fé e apoiassem esse homem.
Vejo gente no mundo todo fazendo a mesma coisa.
Precisamos de heróis. Precisamos de exemplos. Essa, eu acho, é uma das coisas claras que tiro desse momento único.
O mais maluco é que estamos fazendo desse homem um herói, sem nem mesmo termos visto do que ele é capaz. O mais maluco é que a gente percebe que somos todos heróis feitos de carne e osso. Esse homem, e eu conseguia ver isso nos olhos dele, tem total consciencia do tamanho do pepino que tem nas mãos e não larga. Acredita piamente que por maior que seja o problema, ele tem solução. Não tem desafio maior do que a gente possa encarar.
Tente se colocar no lugar de um cara literalmente com o peso de um planeta nas costas. Com a responsabilidade de resolver problemas seculares, conflitos centenários, dúvidas eternas. Dá pra ter uma noção daquilo por que Obama está passando.
Não tem muito mais que eu possa desejar pra ele do que força...e coragem.

terça-feira, novembro 04, 2008

Eleições


Não é nenhum exagero dizer que as eleições presidenciais americanas em curso hoje são um evento importantíssimo na história recente.
Diferente de outros, esse pleito começou no exato dia do anúncio da reeleição de George W. Bush em 2004, vitória cercada de dúvidas e denúncias de fraude que se perderam na roda-viva da imprensa mundial, ávida pelas últimas novidades e descuidada da investigação. Naquele dia, os americanos e o mundo se entreolharam nas suas salas e escritórios se perguntando pelo futuro. Sabia-se que a escalada em direção a um Estado policial, amedrontado e fundamentalista continuaria. O consenso mundial era de viveríamos momentos muito sérios e indefinidos.
De fato, com o avanço e recrudescimento das pataquadas políticas, econômicas e principalmente militares da administração Bush, os cidadãos estadunidenses se viram isolados. A cada dia a lista de antigos aliados que passavam a críticos aumentava. Perto do fim, sobrou apenas Israel, que sempre apoiou a política americana de olhos fechados, fosse qual fosse. De resto, ficou claro de que as coisas deveriam mudar.
Do lado democrata, ficou claro que era a hora de ousar. Apresentar alguém que fosse o exato oposto do atual mandatário não era o suficiente. Era preciso realmente apresentar uma mudança radical. O caminho natural era apresentar a ex-primeira dama Hillary Clinton como candidata à sucessão, fato histórico por se tratar da primeira mulher na história a pleitear o cargo. Mas correndo por fora aparecia um senador negro de 47 anos fazendo campanha viral na internet, discursos inflamados pedindo mudanças radicais na política e na economia estadunidense. Barack Obama surge como uma promessa de mudanças ainda mais radicais. Se Hillary, como ex-primeira dama, representava aparentemente a continuidade da administração de Bill Clinton com algumas novas propostas, Obama representava algo completamente novo. Sua campanha na internet o tornou queridinho dos nerds da América. Ele falava em coisas como "os americanos tem que ver além de suas diferenças raciais e religiosas". Ele falava em tolerância e em sentar para discutir problemas com países que Bush trata como terroristas. Ele falava em aceitar a diferença ao invés de forçar seu ponto de vista.
Num cenário inédito, uma mulher e um negro neto de quenianos disputavam o direito a representar o partido democrata nas eleições presidenciais da mais poderosa nação do mundo.
O mundo, estupefato, passou a acompanhar as prévias democratas e republicanas com grande interesse. Algo realmente estava mudando?
Parte da resposta foi dada na indicação final de Obama, com total apoio do casal Clinton.
Os republicanos se sentiram forçados a dar uma resposta, indicando uma mulher para vice na chapa do senador John McCain.
Definitivamente algo estava diferente.
O mundo inteiro acompanhou os debates tanto entre os candidatos como entre os candidatos a vice. Assistiu Sarah Palin, candidata a vice pelo partido republicano, dizer bobagens e provando ser a bonitinha que deve ficar de boca fechada.
Nos últimos dias, temos assistido Obama ser elogiado por líderes do mundo todo, aliados ou não. Nomes como Hugo Chávez e Fidel Castro, notórios anti-americanos, depositam esperanças no candidato. Líderes palestinos idem.
Artistas apóiam Obama abertamente. Na noite passada, o REM em show no Chile comemorou sua última apresentação sob governo de George W. Bush e mostrou fotos de um sorridente Obama no telão. O público delirou.
Alex Ross, grande desenhista de HQs, retratou Obama em pose de super-herói: o Super-Obama.
Espera-se para hoje um comparecimento recorde de eleitores às urnas.
Ninguém quer perder o embate entre a promessa de um novo país e a manutenção de políticas frustrantes e arrogantes.
Qualquer que seja o resultado das eleições de hoje, a mensagem do mundo para os americanos ficou clara: "não queremos mais um mundo dominado por um único país, não queremos mais seguir regras impostas por loucos belicistas, queremos lideranças que apontem para um futuro sustentável".
Os últimos números das pesquisas parecem ser um sinal de que os americanos entenderam o recado.