terça-feira, novembro 04, 2008

Eleições


Não é nenhum exagero dizer que as eleições presidenciais americanas em curso hoje são um evento importantíssimo na história recente.
Diferente de outros, esse pleito começou no exato dia do anúncio da reeleição de George W. Bush em 2004, vitória cercada de dúvidas e denúncias de fraude que se perderam na roda-viva da imprensa mundial, ávida pelas últimas novidades e descuidada da investigação. Naquele dia, os americanos e o mundo se entreolharam nas suas salas e escritórios se perguntando pelo futuro. Sabia-se que a escalada em direção a um Estado policial, amedrontado e fundamentalista continuaria. O consenso mundial era de viveríamos momentos muito sérios e indefinidos.
De fato, com o avanço e recrudescimento das pataquadas políticas, econômicas e principalmente militares da administração Bush, os cidadãos estadunidenses se viram isolados. A cada dia a lista de antigos aliados que passavam a críticos aumentava. Perto do fim, sobrou apenas Israel, que sempre apoiou a política americana de olhos fechados, fosse qual fosse. De resto, ficou claro de que as coisas deveriam mudar.
Do lado democrata, ficou claro que era a hora de ousar. Apresentar alguém que fosse o exato oposto do atual mandatário não era o suficiente. Era preciso realmente apresentar uma mudança radical. O caminho natural era apresentar a ex-primeira dama Hillary Clinton como candidata à sucessão, fato histórico por se tratar da primeira mulher na história a pleitear o cargo. Mas correndo por fora aparecia um senador negro de 47 anos fazendo campanha viral na internet, discursos inflamados pedindo mudanças radicais na política e na economia estadunidense. Barack Obama surge como uma promessa de mudanças ainda mais radicais. Se Hillary, como ex-primeira dama, representava aparentemente a continuidade da administração de Bill Clinton com algumas novas propostas, Obama representava algo completamente novo. Sua campanha na internet o tornou queridinho dos nerds da América. Ele falava em coisas como "os americanos tem que ver além de suas diferenças raciais e religiosas". Ele falava em tolerância e em sentar para discutir problemas com países que Bush trata como terroristas. Ele falava em aceitar a diferença ao invés de forçar seu ponto de vista.
Num cenário inédito, uma mulher e um negro neto de quenianos disputavam o direito a representar o partido democrata nas eleições presidenciais da mais poderosa nação do mundo.
O mundo, estupefato, passou a acompanhar as prévias democratas e republicanas com grande interesse. Algo realmente estava mudando?
Parte da resposta foi dada na indicação final de Obama, com total apoio do casal Clinton.
Os republicanos se sentiram forçados a dar uma resposta, indicando uma mulher para vice na chapa do senador John McCain.
Definitivamente algo estava diferente.
O mundo inteiro acompanhou os debates tanto entre os candidatos como entre os candidatos a vice. Assistiu Sarah Palin, candidata a vice pelo partido republicano, dizer bobagens e provando ser a bonitinha que deve ficar de boca fechada.
Nos últimos dias, temos assistido Obama ser elogiado por líderes do mundo todo, aliados ou não. Nomes como Hugo Chávez e Fidel Castro, notórios anti-americanos, depositam esperanças no candidato. Líderes palestinos idem.
Artistas apóiam Obama abertamente. Na noite passada, o REM em show no Chile comemorou sua última apresentação sob governo de George W. Bush e mostrou fotos de um sorridente Obama no telão. O público delirou.
Alex Ross, grande desenhista de HQs, retratou Obama em pose de super-herói: o Super-Obama.
Espera-se para hoje um comparecimento recorde de eleitores às urnas.
Ninguém quer perder o embate entre a promessa de um novo país e a manutenção de políticas frustrantes e arrogantes.
Qualquer que seja o resultado das eleições de hoje, a mensagem do mundo para os americanos ficou clara: "não queremos mais um mundo dominado por um único país, não queremos mais seguir regras impostas por loucos belicistas, queremos lideranças que apontem para um futuro sustentável".
Os últimos números das pesquisas parecem ser um sinal de que os americanos entenderam o recado.

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