terça-feira, março 28, 2006

da série "coisas que você não sabe sobre SP"

O universo de pessoas que realmente podem bater no peito e dizer sem medo de errar que conhecem sua cidade é um universo em franco encolhimento. Subverte a teoria da física que diz que o universo está em constante expansão. E tou viajando mesmo, saca?

Sou um dos que nunca bateu no peito pra dizer nada sem medo de errar e vira daqui, mexe dali, descubro um lugar novo, seja por exploração própria (as explorações boêmias tiveram início em Dublin, por volta de 1699 e culminaram com o descobrimento do lugar perfeito para a montagem da fábrica da Guinness), seja por indicação de outros exploradores. Essa história é do segundo caso.

Rezava a lenda que a Praça Roosevelt (batizada com o nome do presidente americano Franklin Delano Roosevelt, aquele pau-d´água) tinha perdido a aura dos anos 90 (onde abrigou diversas casas noturnas e bares "alternativos" - não usem essa palavra na frente dos pais, crianças) para se tornar um abrigo de mendigos e aqueles senhores da sociedade paulistana que buscam prazer com moças que atendem em diversas casas na rua Martins Fontes.

Pois vejam só: a praça tem vida noturna que vai além dessa citada. Bons bares, sebos, teatros de bolso...Vale a ida...valeu a pena

segunda-feira, março 20, 2006

das idéias

Que atração essa entre idéias e bares...e porres...e solidão (ou não, como diria caetano)? Que vontade essa de abraçar o mundo e moldá-lo numa frase definitiva, cada continente uma palavra, cada país uma letra? Que glândula é essa que nos foi posta cérebro adentro que dispara idéias ao ser bombardeada com álcool e fumaça?

Ibotirama, sexta-feira, 17 de março de 2006. É um bar, mas podia sim ser uma cidade ou um planeta encrustado no meio da rua Augusta. Os habitantes desse planeta bebem, fumam, aparecem para depois sumir atrás dos seus copos e das suas vergonhas. Mas no meio desse planeta tinha uma mesa itinerante que navegava continente adentro e continente afora e despejava idéias iluminadíssimas a respeito das coisas mais banais. Apaixonados, sorvíamos inspiração de pequenos copos e expelíamos frases fantásticas que se tentavam subir até a lua, cheia naquela sexta. Uivos de cachorros loucos que éramos, deliciosamente dementes.

Maldito seja o sol, por apagar tão lindas paisagens.

quinta-feira, março 09, 2006

Bar Inalcançável

O Dejanir pra qualquer pergunta respondia "só'. Na verdade quase que se comunicava sempre usando "só" em modulações diferentes de modo a se fazer entender. A gente entendia. E o apelido dele ficou Só.

Daí o estranhamento quando ele chegou esbaforido dizendo uma frase inteira:
- Descobri um bar.
Pra merecer comentário tão profundo do Só devia ser um baita bar.]

Choveram as perguntas:
- É bom?
- Só...
- Tem mulher?
- Só...
- A cerveja é barata?
- só...
- é longe?
- sóóóóóó...

Todos se olharam...seis ós não era longe...era muito longe. Precisaríamos de providenciar transporte e o único que tinha carro era o Oa, que ganhou o apelido por terminar todas as palavras terminadas com "o" acrescentando um "a", mania chata pra caramba, mas vá lá, destino: casa do Oa

- Oa, empresta o Vicente Celestino? (era o nome do fusca do Oa, que além de ter esse hábito chato era metido a romântico)
- e pra que vocês querem o Celestinoa?
- o Só achou um bar, mas é longe
- então vou juntoa! mas precisa pôr óleoa...

Embarcamos no Celestino, Oa dirigindo, mais eu, Pacheco e o Só na carona para indicar o caminho, o que era difícil porque a gente tinha que ficar perguntando:
- Direita Só?
Silêncio
- Esquerda então?
- Só...

Duas horas depois chegamos no alto da cantareira, numa portinha perdida no meio do nada. Grilos cantavam. Todos protestavam:
- Pô Só...é esse o bar?!
- Só...

Entramos. Rolava um blues fantástico e 90% do público era de mulheres divididas em pequenos grupos. Nossa entrada foi devidamente notada e comentada naqueles cochichos femininos, que sempre vem seguidos de risinhos. Risinhos de mulher sempre me deixaram nervoso, nunca soube se estavam rindo ou zoando. Mas vá lá...90% de mulheres com um fundo de blues...ponto pro Só.

Escolhemos uma mesa e sentamos, pedindo cerveja, que era anunciada num quadro negro no balcão do bar a 2 pilas a garrafa. Mais um ponto pro Só. O Oa começou a se assanhar querendo chegar junto de alguma das meninas. Eu e o Pacheco ainda estávamos achando aquilo tudo muito estranho...raro demais. Desconfie de bares que tem cerveja barata, 90% de mulheres e toca blues, é o que eu sempre digo.

Íamos por esses devaneios quando ouvimos um alarme do carro que só poderia ser do Oa...ele tinha programado o dito para dizer "socorroa! socorroa!". Do lado de fora, uma patrulha encostada na porta do bar e um guarda com o pé no parachoque do Celestino:
- Quem é o dono desse carro? - disse o guarda
- Sou eu, algo erradoa? - disse o Oa
- Rotina, rotina - replicou o guarda.

Só, que ia atrás do grupo tropeçou em algo que o guarda iluminou com sua lanterna: era um pacote de maconha...devia ter uns 3 quilos.

- Maconha! - gritou o guarda
- Só! - ...
- Caralhoa!
- Todos pra delegacia!

Na delegacia, fomos recepcionados pelo delegado Paranhos, que chupava um palito de dentes e usava a camisa aberta até o umbigo, como nos velhos clássicos.

- Então as meninas foram flagradas em porte de 3 kilos de erva hem?!
- Só...
- Caralhoa!
- Entrem ali na sala de massagem que já vou falar com vocês.

Entramos numa salinha com 3 cadeiras. Sempre desconfie de delegacias que tem uma salinha com o exato número de cadeiras para que todos os flagrados sentem. É uma armadilha.

Delegado Paranhos entrou na sala 3 horas depois. Oa já falava em "fugir para outro estadoa". Só, concordava. Eu e Pacheco jogávamos dois-ou-um. Paranhos fechou a porta atrás dele e foi breve:
- Rapazes, fico contente de tê-los encontrado a tempo. Aquele antro é um lugar perigosíssimo!. Na verdade aquelas mulheres são todas vampiras que atacam após as 3 da manhã!

Como disse...desconfie de bares que tem cerveja barata, 90% de mulheres e toca blues, é o que eu sempre digo.