terça-feira, dezembro 01, 2015

Quando o aluno é quem ensina


Desde moleque eu ouço por aí, nas ruas, nos mercados, padarias e botecos, nas farmácias e nos pontos de ônibus, no JN e na Rádio Bandeirantes, nas capas da Veja e da FSP: o problema desse país é que não se pensa em educação.

Não tem nem um ano tinha gente na rua e nas sacadas batendo panela, pedindo cabeças, gritando que nesse país não existe educação.

Tiravam sarro do governo federal - e com razão - e de seu slogan publicitário "Brasil, Pátria Educadora".

Mas silenciaram diante do governo estadual, que anunciou cortes e uma "reorganização" feita de cima para baixo, sem consultar ninguém:  "problema de quem estuda em escola estadual". Ou como disse a distinta manifestante "contra tudo que está aí" que não me sai da cabeça: "a periferia que resolva os problemas da periferia".

Deu-se que meninos e meninas resolvem tomar a bandeira para si, assumindo essa responsa de gente grande de brigar pelo próprio direito.

Ocupam escolas. Cuidam do patrimônio como não se cuidava havia meses, anos. Limpam banheiros, recuperam salas, pintam paredes. Tratam a escola como suas casas e mandam o recado: vamos cuidar do que é nosso, e daqui ninguém tira a gente enquanto a gente não for tratado com respeito.

No rolê cívico, recusaram o apoio (interesseiro) das velhas entidades (UNE, UBES, UMES).

Essa briga é deles, não é das bandeiras velhas e encardidas.

Mas o governo decidiu que assim não pode ser.

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O governo do estado de São Paulo declarou guerra. Tem gravação do secretário de educação tratando meninos e meninas como inimigos, dizendo, como quem diz um palavrão, que as manifestações são políticas (como se brigar por educação não fosse mesmo um ato político, e como se isso não fosse justo e justificado, mas o ponto não é esse).

No dia seguinte, escolas que estiveram durante toda a manifestação cercadas de PM rosnando pra quem estivesse dentro e pra quem passasse do lado de fora, são invadidas por vândalos que depredam salas de aula, bibliotecas (quando existem) e outros equipamentos.

A imprensa "imparcial" insinua - em jornais, rádios e TV -  que os alunos são baderneiros.

Pais de alunos, diretores, padres, são convocados pra tirar a molecada das escolas.

Pais são colocados contra seus filhos. E engolem o golpe de um governador antidemocrático, fascista, violento, para quem nada mais importa senão a sua própria noção subjetiva de "ordem".

Mas seus filhos e filhas não arredam o pé. Herois e Heroínas, esses meninos e essas meninas nos ensinam uma lição esquecida.

Eles apontaram o caminho: resistamos, reivindiquemos nosso lugar, batamos o pé, derrubemos muros que separam classes e gente e ruas e calçadas e espaços públicos.

Ao povo o que é do povo, na boa, na coletividade, na humildade.

Mas com garra.

Com garra.


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