quarta-feira, agosto 15, 2007

15 de agosto de algum ano aí

Aconteceu. Foi mais rápido do que o tempo que você leva para ler este parágrafo. A Coréia do Norte achou de peitar os EUA, que acharam de responder à altura (2 metros e meio mais alto, diga-se). A Rússia achou que não podia ficar atrás. E Índia e Paquistão, seguidos por Israel e outras potências nucleares, resolveram arregaçar as mangas. Uma grande banana para anos de diplomacia.
Naquele boteco no centro da cidade, a nata: dois estudantes universitários, um garçom, um mendigo conhecido (atraído pela hora de fechamento e esperançoso na xepa que se anunciava), o músico que esperava o cachê da noite e o dono do bar. Olhavam incrédulos para a TV, portas baixadas.
O silêncio foi quebrado pelo mendigo, bêbado, antes de qualquer outro que compartilhasse da situação etílica:
- Putz! Fodeu!
Risos nervosos. Copos baixados. Murmurinho. O "doido" tinha razão: fodera. Não o doido, o mundo.
Portas baixadas, dizia, e não demoraram os brindes:
- Quero ver o presidente dizer que não sabia!
- Sou o dono da maior biblioteca do mundo! Um livro! Um livro!
- Ao ócio amanhã!
- Ao fim do mundo!
Se olham. Fim do mundo.
Sentam-se, que estavam de pé já fazia tempo. Um dos estudantes pensa e se sente ridículo por querer ligar pra casa. Outro se sente ridículo por não querer ligar. O devaneio começa com eles:
- Quantos filhos você queria ter?
- Eu queria um casal...e você?
- Eu queria quatro, mais se possível.
- Você tá é besta...sabe a quanto anda a fralda?
- Ô garçom, traga aí uns amendoins e mais uma gelada já que não tem jeito.

Garçom olha para o dono do bar, que consente, calado. O mendigo se manifesta mais uma vez:
- Ah...eu sabia que ia dar merda. Quantas cervejas tem aí?
Todos se olham. Garçom, limpando a mesa, inclusive.
- QUANTAS CERVEJAS TEM AÍ, PORRA!?!?
-T-t-três caixas... - é um misto de choro engolido e preocupação.
- Então fodeu mesmo irmão...a parada é a seguinte: aqui não é alvo pra ninguém...a gente vai morrer é de radiação, ou fome. Essa cerveja aí não vai dar nem pra molhar o bico.

A lógica do mendigo era irresistivelmente...digamos, lógica. O clima de camaradagem apocalíptica (antes que perguntem se existe tal coisa digo que não sei; não tivemos muitos apocalipses ultimamente para aferir a camaradagem existente) deu lugar a olhares desconfiados e rostos sombrios. A cerveja ia acabar, e logo. Era mister garantir o seu quinhão. Melhor era pegar tudo pra si. E dane-se se eram 3 caixas de serramalte, caras à beça. Em tempos escatológicos a gente tem um pendura garantido, paga-se lá, no além ou na próxima vida, o que vier primeiro.

Luzes se apagam.

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