quarta-feira, janeiro 21, 2009

Café dos Maestros

Um velho tocador de bandoneón avisa na tela: "Se você ouvir um tango e não sentir nada no peito, melhor se dedicar a outra coisa".
Lembro de um disco do Piazzolla em casa, uma dessas coletâneas. Foi meu primeiro contato consciente com o tango. Lembro de chorar ouvindo "Balada por un loco".
Walter Salles se junta a um produtor argentino (Gustavo Santaolalla - vencedor do Oscar por Brokeback Mountai) para contar uma história. De velhos músicos que tocavam em cafés de Buenos Aires quando o tango era tudo o que se ouvia. "O tango é a única coisa que não importamos da Europa", diz um. São velhos homens que sabem das coisas. Passaram por bons e maus bocados. Os produtores resolveram se concentrar na música ao invés da história e criaram um clone de Buena Vista Social Club, com outro ritmo.
É bonito, plasticamente. Velhos e amargurados tangos contrastam com a paisagem urbana da capital argentina. Com as ruas do centro. Com a Casa Rosada. Com La Boca. Com a Bombonera. É uma história velada.
Não dá pra deixar sentir que podia ter ido mais longe. A última meia hora, passada numa grande apresentação no Teatro Colón, se limita a flashes de várias músicas como querendo dar um panorama geral da grande noite daqueles senhores. Melhor seria uma seleção de quatro ou cinco músicas completas. Não se ouve um tango pela metade.


Lágrima Rios é uma uruguaia, cantora de um estilo dos bairros do sul de Montevidéu chamado candombe e consideraga grande intérprete do tango. É apresentada rapidamente. E não aparece na apresentação do teatro Colón. Ela morreu em 2006.


O brasileiro se gaba muito de ser um povo caloroso. De levar a latinidade às últimas consequências. Observei o comportamento daqueles senhores e me perguntei se era verdade. Muitos deles na casa dos 60 anos, se abraçando, trocando beijos, se olhando nos olhos. O corporativismo do mundo artístico, pensei. Fui desmentido por um deles, no hipódromo, contando histórias de apostas em cavalos. É reconhecido por um fã, também na casa dos 60, que não hesita em abraçá-lo e beijá-lo: "Obrigado pela música, maestro. Que voz!"

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