domingo, março 25, 2012

Original ou dublado?

Domingão. Dia de reclamar.

Faz tempo que eu me irrito com a redução de programas com áudio original e legendas na TV por assinatura. Gênios da análise de mercado dão o fato como irreversível, graças à entrada da classe C no grupo de assinantes desse tipo de serviço. Concordo em termos. Mas aplaudo e defendo o direito que todos têm ao lazer.

Agora, usar isso pra justificar a retirada dos programas com áudio original da grade de programação merece duas explicações simples:


1) Preguiça

Todo mundo sabe que existem três (não dois) canais de áudio e um de legenda disponíveis para todos os canais de qualquer operadora. Querer me convencer de que usar a tecnologia é uma questão complexa - pior, inútil - é me chamar de otário.

2) Tendência "sadomercadológica"

É prática comum das teles (TVs por assinatura e operadoras de celular) correr atrás de aumentar sua fatia de participação no mercado. Para quem não é assinante, todas as vantagens. Para quem é, bom...ele já é assinante, não é?


Até aqui estamos na seara dos direitos do consumidor. Me sinto lesado e pretendo levar isso aos canais competentes. Debate entre consumidor e prestadora de serviços, e ponto.

O problema é quando um veículo de comunicação tenta me fazer engolir a "novidade" calado.

Hoje, no Estadão, uma distinta jornalista (blogueira? jornalista? sei lá) tenta me convencer de que "essa história de que o aumento de oferta de programas dublados na TV por assinatura  foi causada pelo aumento do número de assinantes da classe C é balela", na verdade isso seria uma tendência de mercado. Tenta me convencer de que eu  - que prefiro programas com áudio original e legendas - sou minoria. Faz isso no melhor estilo "jornalismo de release", aquelas matérias que depois de lidas fazem você jurar que foram escritas pelo departamento de marketing de uma empresa.

A empresa que escreveu essa matéria específica foi a a TNT, canal de TV que, segundo a matéria, oferece programas dublados há mais de 20 anos (só esqueceram de aferir a audiência da TNT, mas beleza).

Na matéria, somos apresentados a uma pesquisa encomendada pela mesma TNT que mostra que "apenas a metade dos consumidores prefere programas com áudio original a dublados". Me corrijam se eu estiver errado, mas metade de qualquer número não é exatamente desprezível, estatisticamente falando.

Também tenta nos convencer de que as pessoas, na verdade, têm vergonha de admitir que preferem ver programas dublados ao invés de legendados. A homilia vai além: diz que as TVs de tubo - que ainda são maioria (!!!) - tornam a experiência de ler legendas desconfortável.

Cita alguns exemplos de canais que obtiveram sucesso ao mostrar apenas programas dublados como o Telecine Pipoca. Vejam vocês: o Telecine Pipoca é um dos poucos canais que passam, sim, programas dublados, mas oferecem a opção de assistir à programação com áudio original e legendas, mas a assessora de imprensa desconhece. Não sabe. Não viu.

Cerejinha do bolo, pra você que prefere ver o programa em áudio original, seja essa áudio qual for:

"quem duvida do interesse da massa pelo bom português "falado", convém conferir a tabela ao lado: dos 16 canais mais vistos na TV paga brasileira em 2011, 18 dispensam legendas"

Eu me interesso por jornalismo bem feito...

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