leia antes a primeira e a segunda parte desse conto
Nunca tinha visto maldade em ninguém, mas foi a primeira coisa que vi nos olhos da primeira pessoa que cruzou meu caminho ao sair do prédio onde moro em Pinheiros. Senti medo e desviei os olhos mas senti que eles ainda me seguiam enquanto eu me misturava às pessoas.
No céu, os satélites - que desde 2029 são visíveis a olho nu - me olham com desconfiança;
o fato de estar entre a multidão completamente desplugado pode ser sido a razão disso.
A sensação é indescritível e me fez esquecer dos olhos, daquela pessoa e dos satélites.
Me sinto perdido e é bom. Não vou para lugar nenhum e vou para todos os lugares. Não sei o que fazer nem sei se a bela mulher com o laço amarelo nos cabelos que passa por mim gosta das mesmas coisas de que eu gosto. Decidi descer a rua Augusta que está sendo remodelada. Haveria de encontrar o que procurava.
Estou sozinho.
Quero gravar isto mas não tenho onde, por isso trouxe o velho caderno e uma caneta.
Vento.
Sol.
Folhas caídas.
É um sacrifício ter de expressar essas coisas sem o complemento das imagens, sons e das minhas próprias sensações gravadas, acostumado que estou com o escaneamento das minhas retinas e das minhas sinapses, mas o exercício é tão intrigante que escrevo e caminho ao mesmo tempo, esbarrando nas pessoas e tropaçando nos burados da calçada sendo refeita. Me pergunto se tempos atrás alguém conseguia fazer isso com mais competência.
A um ponto parei. Um prédio estava sendo demolido na esquina da Fernando de Albuquerque. Uma placa estava jogada no chão junto com o entulho que ia rapidamente sendo recolhido pelos recicladores que o iriam transformar em blocos de construção. Na placa eu li: "Ibotirama". Muito tempo atrás meu avô me trouxe aqui e contou das noites em que vinha a esse lugar. Era um dos pontos onde queria experimentar.
Me afasto, sentindo um pouco de raiva e tristeza. Mais um pedaço dele que vai embora.
4 comentários:
Vou te dizer uma coisa....
você está no ramo errado, hehe.
Este diário do teu neto é muuuiiiito bom, parabéns.
[] Wolf
FODÃO.
Cris
lindo lindão! morremos todos juntos.
Classe!
Na altura do campenato já me sinto velho.
Rsrsrsrs
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