sexta-feira, maio 22, 2015

A Reforma. Capítulo XXII: O Gás




"Quando as coisas faltam, aí que você sente falta" (Confúcio, eu acho).

Sexta passada eu resolvi que não precisava acompanhar a obra. Fiquei longe. Precisamente às 15hs toca meu telefone. Era o Seu Jurandir:

- É que a gente bateu num cano aqui e era de gás.
- !!!!
- Mas tá tudo bem, já fecharam lá embaixo, já.
- E aí? Como fica?
- É...não sei. O cano tá velho. Tá descascando. Melhor tirar.
- Mas eu vou ficar sem gás até quando?
- É... não sei - uma coisa que você não pode é culpar o Jurandir de mentir nos prazos.

Problemas urgentes tem essa propriedade de mexer com nossa autopercepção, fazendo com que tenhamos a impressão equivocada de que nossa mera presença irá resolver o problema.

- Não mexe em nada que eu tou chegando.

Cheguei e, claro, não adiantou nada. Liguei para o síndico, que me acalmou.

- Calma. Tá tudo bem. Já aconteceu antes. O gás tá desligado. Agora precisa achar o ponto onde o gás chega no seu apartamento e cortar o cano que vai pro banheiro. Coisa tranquila. Na segunda a gente vê direitinho.

Segunda-feira o síndico entra em comitiva no apartamento, com um faz-tudo do prédio, o zelador, o porteiro, odaliscas, uma fanfarra... O faz-tudo foi professoral:

- O cano sobe por aqui, atrás da geladeira. Tem que ir escavando até encontrar, com jeitinho, tic, tic, tic...

Dois rombos foram feitos. Cada um grande o suficiente para passar uma capivara, como bem observou a Renata. E nada do tal do cano. Já era terça-feira e Jurandir, um homem prático como pede a profissão, deu sua sugestão:

- O mais fácil é vir rasgando desde o banheiro, passando pelo corredor até achar outra ponta.

Acordei no chão, com a Renata me abanando.

- Seu Jurandir, nosso carpete de madeira, rapaz! Custa caro esse troço. Vamos pensar em outra coisa. Amanhã a gente vê.

Na quarta-feira resolvemos apelar para o faz-tudo, que estava quebrando um galho numa obra na igreja aqui perto.

O dito cujo...
Os mais religiosos vão atribuir o que se seguiu à recente excursão do faz-tudo à igreja. O fato é que, benzido ou não, ele encontrou o dito cujo.

Choramos e nos abraçamos. Matamos um cordeiro e o servimos com pão ázimo e ervas amargas, em honra da família do faz-tudo.

Entre as comemorações, o síndico nos lembrou que devíamos ter um laudo da Comgás dizendo que estava tudo bem.

- Só pra ter certeza...

Depois de 15 ligações, descobrimos que quem faz esse tipo de laudo são as terceirizadas. A Comgás só bota a mão caso eles tenham sido chamados para desligar o gás em primeiro lugar, como se alguém fosse besta de esperar a Comgás chegar enquanto tem gás vazando pelo cano pra dentro de casa...

Mais 15 ligações e finalmente eu descobri que o que eu queria era um teste de estanqueidade, e que ele ia custar. E ia custar caro (mhuahhuahuahua!). Hoje, finalmente, depois de uma semana, um técnico de uma dessas empresas veio executar o teste.

Teste de Estanqueidade
Que consiste em colocar um aparelho de medição de pressão no relógio, abrir o gás e verificar se a pressão interna baixa, o que é sinal de vazamento.

Resultado: ou está tudo bem ou eu segurei o ponteiro do aparelho só com a força do pensamento, o caso é que temos gás.

A mudança segue. Na semana que vem começa a fase de acabamento. Vamos ver que surpresas nos aguardam.







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