quarta-feira, maio 24, 2006

coxinha

Muito se pode dizer de um bar experimentando sua (do bar) coxinha (salgadinho).
Não é? A cerveja não muda - apesar de existirem bêbados profissionais que juram que a Brahma de determinados lugares é mais saborosa do que em outros, dados os devidos descontos de temperatura e pressão. O atendimento de um boteco raramente varia mais do que o bom/mau humor do garçom. Preços são praticamente tabelados. O que diferencia mesmo o bar é a coxinha.

Repare bem na próxima coxinha que você pedir. Começe analisando o exterior: boas coxinhas tem uma camada uniforme de farinha de rôsca envolvendo-as e não vêm pingando óleo - não acreditem em quem diz que coxinha boa mesmo é a que pinga óleo, ele já passou da décima-quinta cerveja. Coxinha que vêm em pé também denota excesso de óleo e muito tempo parada.

A primeira mordida é assunto subjetivo. Existe a corrente dos começo-por-baixo e a dos começo-por-cima, particularmente estou com o primeiro grupo; gosto de encarar logo o desafio deixando o a massa para o fim, massa é fichinha. Dessa forma também, tenho logo um vislumbre do que me espera, se a redenção da minha fome ou se a tortura interminável de um acepipe indigesto.

A coloração vai do branco anêmico ao vermelho urucum (cor essa dada por temperos de uso exclusivo das Forças Armadas), prefira sempre o meio termo, como diria o Dalai Lama. Muito branco=sem gosto, muito vermelho=suspeito, para me fazer bem claro.

O interior pode reservar ainda algumas surpresas que, para os novatos da arte, só se revelarão após uma ou duas mastigadas. Ocorre que devido à volatilidade do mercado de galináceos, determinados estabelecimentos adeptos de excessivo zelo financeiro, concluíram que o recheio deve conter não peito, mas partes menos nobres da ave. Em dado momento o cuidado beira o descaso, deixando passar em exames de material que julgo de pouco ou nenhum rigor higiênico, o que os antigos chamavam carinhosamente de "gelatina" - pergunte ao vovô. Em casos extremos, mínimos pedaços da ossatura animal sobrevivem intactos ao liquidificador, indo parar exatamente naquela obturação que você devia ter ido consertar e não foi.

Em casos extremos como os citados acima, adote a postura firme e decidida do suicida: coma e não olhe. E se sobreviver, não volte a esse bar.



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