quarta-feira, maio 28, 2008

meninos

As meninas que me desculpem mas esse vai ser um post de meninos.
Cheirando a cerveja e suor de jogar bola. Preto de lama do terreno baldio dos fundos da casa. Lanhado das folhas da bananeira que se arreganhou para nossas mãos ávidas de fruta. Molhado da chuva que banhou os corpos sobre as bicicletas naquela tarde de outuno.
Meninos precisam de amigos. Desde sempre e para o resto da vida.
Os meninos precisam ter vizinhos para compartilhar seus doces de infância e o gosto amargo da cerveja quando adultos. Precisam de alguém pra dividir o carrinho de rolimã e a mesa de bar. Em ambos os casos, chamamo-nos amigos.
Pequenos, dividimos bicletas e brigamos por pipas. Trocamos figurinhas de futebol. Comparamos cicatrizes nas peles inexperientes. Temos medo juntos. De tudo: de escuro, da turma da rua de cima, de meninas. Temos ódio juntos: da turma da rua de cima, de meninas, do dono da bola, do professor, uns dos outros.
Batemos e apanhamos juntos; alguns batem mais, outros apanham mais - juntos.
Maiores, dividimos a punheta, nem que seja da boca pra fora. Dividimos a musa. Dividimos o primeiro cigarro. Dividimos a invencibilidade, a imortalidade. Somos poderosos e bobos. Brigões e cagões. No escracho, nos amamos e nos odiamos, mais uma vez.
E bem quando achávamos que já tinhamos achado todos os amigos de que precisávamos, aparece um e outro que toma do nosso copo. Gosta do nosso gosto. Ri do nosso riso. E deixamos esse camarada entrar, que é da natureza do homem desconfiar não desconfiando. O camarada puxa a cadeira e senta na nossa mesa. Vira amigo.
Um desses camaradas acaba de dar um baita susto na gente. Sumiu e não disse que horas volta. Manda notícias dizendo que está mal, mas volta.
Se não voltar, juro que vou lá encher a cara dele de bolacha.
Volta amigo.
Volta.