quinta-feira, junho 28, 2007

Aqui, ó.

Já não se espanta. Mas ainda sente o frio na barriga; será? Atravessa a rua olhando para os dois lados, o de cima e o de baixo, vai que alguma coisa desce ou sobe e te atropela. Passa o dia ouvindo cheiros e cheirando luz. Pisar em ovos é que é. Estômago embrulhado, pra presente, num laço com nó cego. Olhar e ver pra quê se a poeira é densa e se agora, na selva, só existem espelhos? Uma mão enrugada, a outra não, que você já está a meio caminho andado; ou com água até o pescoço, acenando pra ninguém. Tá tudo aí, é pegar ou largar. Agarra com unhas sujas e dentes podres e não solta. Nem corre que se correr o bicho...o bicho. Acabou a brincadeira, enfia a bola no saco e vai pra casa que está na hora de jantar...silêncio. Preocupado? Aqui, ó. AQUI, Ó!

terça-feira, junho 26, 2007

O caroço da questã

Semanas atrás assistimos palestra com o jornalista William Waack, apresentador do Jornal da Globo, daquela emissora. O objetivo não ficou muito claro, mas ficou a impressão de que seria dar um panorama da imprensa brasileira atual.
Inevitavelmente um dos assuntos discutidos foi a grande quantidade de escândalos que pipocam no governo do, nas palavras do grande Elio Gaspari, Nosso Guia e a terrível constatação de que o brasileiro perdeu a sua capacidade de se indignar e de reclamar; de ir à rua e se mostrar indignado.
Espaço aberto a perguntas, questionamos o profissional se não seria também papel da imprensa dar maior ênfase à análise acurada dos fatos ao invés da simples repetição e divulgação uma vez que, pela quantidade de escândalos, essa tendência poderia provocar um efeito anestésico nos receptores da notícia.
William foi categórico em não dizer nada. Nem que sim nem que não. O debate é complexo, sabemos, mas o espaço para discussão e análise ainda é restrito.
Me pego agora lendo na Folha Online esta matéria comentando o fato de a Sra. Mônica Veloso, jornalista, mãe de uma filha de Renan Calheiros e um dos pivôs do escândalo mais recente, ter manifestado seu interesse em posar nua para uma revista masculina. E mais! Essa mesma revista estar interessada sim em exibir as fotos da nobre cidadã. A matéria até chama a jornalista de "musa do escândalo".
Não faz muito tempo, durante outro escândalo, o do valerioduto ( que também se chamou Mensalão) a secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, manifestou pretensão parecida com a sra. Monica, chegando inclusive a fazer ensaio "sensual" para a própria Folha de S. Paulo na sua versão online.
Vamos assim, numa corda bamba entre a notícia bombástica, a denúncia gravíssima e a chacrinha, a leviandade.
As denúncias do caos aéreo gravitam entre bravatas do lado do governo e das forças armadas, as denúncias dos controladores e os repórteres de plantão nos aeroportos preocupados não em entrevistar ou localizar autoridades que possam dar opinião oficial - ou mesmo funcionários com versões oficiosas - sobre os fatos; buscam antes, quando não somente, a opinião da senhorinha cansada, da família em pé faz 4 horas. Ora! Estes estão obviolulantemente indignados com o fato de terem seus vôos cancelados.
Sr. William, concordo com a opinião de que o papel da imprensa é informar. Concordo que a velocidade das informações e dos escândalos que grassam nem sempre permite uma análise ou a busca de opiniões de especialistas a priori. Questiono o carnaval. Questiono a bufonice em que terminam as coberturas dos escândalos; essa postura sim sr. William, é a responsável pela falta de indignação e pela anestesia geral no moral da patuléia.

sexta-feira, junho 22, 2007

Resumo

Rua Frei Caneca, Rua Altinópolis, Escola de educação infantil Bambino, Peg&Pag, Copa de 1982, Ponte Pequena, irmã pequena, bonequinhos do Batman, Ultraman e Ultraseven, mãe pedindo pra ir comprar pires e eu achar que é um jogo, aniversário com bandeirinhas no teto e bolo imitando campo de futebol, playmobil, Rua Salete, Colégio Dervile Alegretti, professora Jurema, primeiro livro, Jumbo Eletro, Arujá, água do poço e o barulho da bomba de tirar água do poço, malhar o judas, cheiro de café, bife com casca, farofa de ovo, mandiopã, Pirituba, Pico do Jaraguá, Colégio São João Gualberto... 10 anos.
Bicicleta nova, amigos novos, descer ladeira, medo de cair, entrar em casa sujo de lama, boletim com o primeiro "vermelho", lavar a Brasília vermelha no sábado, cinema no shopping paulista com os amigos do colégio e guerra de pipoca, meninas-lá-meninos-cá, meninos e meninas se aproximando depois, ficar sem graça e não saber o que fazer com as mãos, Ilhéus, saudade, Colégio São Jorge, cartas trocadas e mais saudade, Porto Alegre, Brique da Redenção, lanche no Rib´s, IPA, deslocamento, grupo de jovens, acolhimento, amigos, cara pintada, amigos, Técnico em Contabilidade, amigos, namoradas, Rolling Stones no Pacaembú e lanche no La Baguette, primeiro porre, primeira banda, cerveja com o pai, Gramado, PUC, música industrial, amigos de mijar junto, cafeteria Porto dos Casais...20 anos.
Namoro sério, medo de perder, estar sozinho no mundo, conversas noite adentro com Nescafé, voltar pra São Paulo, querer morrer, depois desquerer, querer viver, não entender mais nada, Vila Matilde, ser tio, desencontros, porres, emprego estável, novos amigos de mijar junto, Passagem da Consolação, Renata, Riviera Bar, gosto de futuro, Rua Paim, universo paralelo, fazer pastel, churrasco na chuva, chuveiro queimado, Rua Frei Caneca, festas intermináveis, controlar a pressão, parar de fumar, voltar a fumar, viajar junto e voltar junto, filme e pipoca, Ibotirama, Festas dos anos 80, voltar a estudar, casa própria, Alameda Ribeirão Preto...30 anos.
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quinta-feira, junho 21, 2007

Virei a esquina e topei com 30 anos

Amanhã vou olhar no espelho de manhã, para os rituais humanos corriqueiros, e vai estar o reflexo de um cara com 30 anos vividos. Talvez eu puxe pálpebras pra baixo, afaste alguns fios de cabelo aqui e ali e descubra uma nova dobrinha, um novo fio branco; no mais, o mesmo eu.
Devia ter um espelho que mostrasse como a gente vai por dentro, que eu sinto algumas coisas que não sentia quando completei 20. A capacidade de entornar diversas qualidades de bebida numa mesma noite e acordar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido me escapou, por exemplo. Dez anos atrás eu comecei a fumar e hoje eu sinto os efeitos disso quando subo uma ladeira, ou boto os bofes pra fora de manhã cedo na hora do banho.
São coisas que me fazem pensar que a gente tem um limite, e acho que essa é uma das descobertas desses tempos de 30 anos. A gente se pega falho, descobre que não tem a capacidade regeneradora eterna e nem pode dobrar barras de aço com o mindinho. Dá um certo medo, mas o medo faz parte.
Conversava com um amigo, dias atrás. Ele está dez anos na minha frente nessas descobertas e passagens. Concordamos em um ponto: a tal crise dos 40 começa aos 30. A gente se pega mesmo sentindo que tudo o que fizermos nesse período define o que seremos para o resto das nossas vidas. 20 anos é fichinha. Dos 20 aos 27, 28 você tem mais é que curtir uma boa dose de irresponsabilidade. De repente você acorda um dia pensando em que diacho está fazendo. Acorda olhando em volta e vendo onde você está. Em boa parte dos casos tem ali do seu lado uma mulher que te ama, e que você ama de volta e quer passar o resto da vida do lado dela. Olha pra uma casa que você está construindo. Uma família apontando. Te dá uma paz e um nó na garganta. Você se vê homem, no melhor sentido do termo. Tem um mundo pela frente e um passado com um bom repertório de acertos e cagadas em que se basear. No meu saldo geral de acertos e cagadas, foi um bom passado - tenho milhares de fotos pra provar. Vai ser um bom futuro. Está sendo uma boa vida.